domingo, 9 de outubro de 2011

O menino da menina

E então ele mudou para menino - frágil, tão para ela, encolhido em seus modos e entregue aos muitos afetos colhidos para ele em flor. Menino de meninice endiabrada, amarrando os cadarços dos passantes, rindo de cada tropeço e das pedras que atirava da calçada. Com seu pequeno luzeiro, atiçava os moradores das torres altas, escrevendo o nome dela em todos os topos, marcando a pr...esença deles nas garrafas espatifadas no chão. Menino sarrafo, timboqueiro, comparsa do saci arredorado de diabos, tal qual na pintura que ele, sem no quando saber, tinha para ela pintado, pintura no preto e branco de devaneios tão infantis. Ele, que tem medo de bebê monstro, do diabo arreganhado, daquele bicho que não se esconde quando o menino se cobre e cerra os olhos.

Menino tão menino, que entre o riscado de uma letra e outra, ou de afogamentos avessos tais, é agora e sempre e tanto só o menino com olhos de marinheiro, mareado, menino aprendendo a amar.

Recostado no colo dela, no encaixe de suas fissuras, na geografia desenhada do olhar, o menino dormita. Então ela é toda abraços ao menino, ela respira seu respiro, ela emaranha os cabelos dele, tira tudo do lugar.

Menino da menina. Engalfinhado, insensato. Menino, que no lugar daquele monte de palavras grandes, o danado zombeteiro assume e resume, sorri das mãos dadas e pisa estilhaço. De longe, ela ouve o menino correr e gritar: “menina, acho que a gente tá meio pirado, a gente tá meio muito pirado, minha menina!”.

A menina corre então para acompanhar. E sorri.

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